ALMEIDA JÚNIOR - Violeiro Óleo sobre tela - 141 x 172 - 1899 Pinacoteca do Estado de São Paulo Iniciei esse texto do Almeida Júnior várias vezes, e hesitei outras tantas em dá-lo por concluído. Estou certo que ainda não o “fechei” como queria, mas me alento em saber que para artistas como ele, ficará sempre assim, uma lacuna eterna de defasagem. Ele sempre será para mim o primeiro farol a direcionar pelo caminho da arte, primeiramente porque foi sobre ele o primeiro livro de arte que adquiri, e mais ainda pelo fato de ter sido um artista que se preocupou em retratar a “cara” da nossa gente, num período onde a referência era Paris, e os temas da moda se limitavam aos ditados pelo cenário europeu. ALMEIDA JÚNIOR - Caipira pitando Óleo sobre tela - 100 x 70 - 1895 Coleção particular, São Paulo ALMEIDA JÚNIOR - Amolação interrompida Óleo sobre tela - 200 x 140 - 1894 Pinacoteca do Estado de São Paulo Não foi um artista que produziu obras grandiloquentes como Pedro Américo e Víctor Meireles, bolsistas anteriores a ele, que foram enviados à Europa no intuito de aprenderem técnicas para produzirem com essa finalidade. A obra de Almeida Júnior emana uma grandiosidade diferente. É a mais alta exaltação da simplicidade e dos temas corriqueiros do Brasil daquela época. ALMEIDA JÚNIOR - Caipira picando fumo Óleo sobre tela - 70 x 50 - 1893 Pinacoteca do Estado de São Paulo ALMEIDA JÚNIOR - O derrubador brasileiro, detalhe Óleo sobre tela - 227 x 182 - 1879 Museu Nacional de Belas Artes, RJ Almeida Júnior retratou o Brasil (mais precisamente São Paulo) com tanta naturalidade e propriedade, que virou um símbolo de nossa arte, e por isso, comemoramos o Dia do Artista Plástico no seu aniversário de nascimento, 8 de maio. Uma infinidade de textos e reportagens de sua época, e mesmo após ela, relata a importância singular desse artista e de sua rápida trajetória, já que faleceu prematuramente aos 49 anos de idade, no auge de sua carreira, e numa brilhante fase. ALMEIDA JÚNIOR - Apertando o lombilho Óleo sobre tela - 64 x 88 - 1895 - Pinacoteca do Estado de São Paulo Mesmo que tenha vivido na Paris dos anos dourados do Impressionismo, não se influenciou por tal movimento. Mesmo lá, rodeado de novidades no colorido das paletas, possuía ainda tons escuros e terrosos, que só acenderam quando retornou ao Brasil. Sua trajetória não foi das muito fáceis, como parecem não terem sido as de muitos outros artistas. ALMEIDA JÚNIOR - Cozinha caipira Óleo sobre tela - 63 x 87 - 1895 Pinacoteca do Estado de São Paulo ALMEIDA JÚNIOR - A estrada, detalhe Óleo sobre tela - 120 x 80 - 1899 Coleção particular, São Paulo O garoto que tão cedo já despertava atenção para o desenho, sai de Itu, sua cidade natal, aos 19 anos de idade. Parte para o Rio de Janeiro, onde se ingressa na Academia Imperial de Belas Artes, empreitada financiada por parentes e amigos. Como todo aluno que passava por aquela instituição, freqüenta dois anos obrigatórios na disciplina de desenho, e até 1874, ano que conclui o curso, faz diversas matérias específicas como Anatomia, Desenho Geométrico e Figurado, Modelo Vivo, Pintura Histórica, Fisiologia das Paixões, Estética e Matemática aplicada. Teve a honra de passar por mestres como Le Chevrel e Víctor Meirelles. As condecorações recebidas ao final do curso atestam a qualidade dos trabalhos realizados nesse período, recebendo inclusive medalha de ouro pela tela Belizário Esmolando, na sua última participação como aluno na Exposição Geral de Belas Artes da AIBA. ALMEIDA JÚNIOR - A leitura Óleo sobre tela - 41 x 95 - 1892 - Pinacoteca do Estado de São Paulo Em 1875, retorna para Itu, sem concorrer ao prêmio de viagem. Realiza encomendas, principalmente retratos, e também presta serviços como professor de desenho. Graças ao sucesso dos retratos que realizou por esse período, o imperador D. Pedro II lhe oferece uma bolsa de estudos em Paris. Passa o ano de 1877 frequentando aulas de desenho e em 1878 se ingressa na Escola Nacional Superior de Belas Artes. Cabanel, um dos maiores opositores ao movimento Impressionista foi seu principal professor nos três anos que fez o curso, talvez essa, uma das maiores influências em continuar desenvolvendo um trabalho mais sóbrio e acadêmico, mesmo vivendo num ambiente de efervescente mudança estilística. Todo o período passado lá, serviu portanto, mais para consolidar os ensinamentos da Academia Imperial de Belas Artes, principalmente os referentes ao domínio do Desenho e Geometria da Composição. Entre 1879 e 1882 participa do Salon Officiel dês Artistes Français, com obras importantes de sua carreira, como por exemplo, O Derrubador Brasileiro, que mesmo prenunciando uma temática voltada para as questões regionalistas, ainda não tem o frescor e as cores dos trabalhos produzidos por aqui. ALMEIDA JÚNIOR - Monge capuchinho Óleo sobre tela - 58 x 47 - 1874 ALMEIDA JÚNIOR - A mendiga Óleo sobre tela - 144 x 88 - 1899 Coleção particular, São Paulo Retornando ao Brasil, em 1882, é um nome de respeito no cenário artístico. As lições aprendidas nos anos de bolsista lhe gabaritam como um pintor arrojado, amadurecido, e que promove mudanças no meio artístico. Inova fazendo vernissages exclusivos para a imprensa e pretensos compradores, e também forma novas gerações de artistas, entre eles merece destaque Pedro Alexandrino, notável pintor de naturezas mortas. ALMEIDA JÚNIOR - O importuno Óleo sobre tela - 145 x 97 - 1898 Pinacoteca do Estado de São Paulo ALMEIDA JÚNIOR - No ateliê Óleo sobre madeira - 38,5 x 23 - 1894 Coleção Fadel ALMEIDA JÚNIOR - As lavadeiras Óleo sobre tela - 82 x 42 - 1875 Coleção particular, São Paulo É a última década de sua vida, o período em que viria a realizar todas as obras que lhe diferenciam do grande número de artistas de seu tempo. Voltando os olhos para experimentos realistas, como os feitos por Coubert e Corot, mas sem jamais abrir mão de todo recurso acadêmico adquirido em tantos anos de escola, desenvolve uma linha de trabalhos voltada para o cidadão brasileiro caipira. Ele o retrata em seu próprio ambiente, rústico, simples acima de tudo, mas sem nunca tirar-lhe uma aura de majestade e altivez. Empresta para essas composições uma luz que não usara antes e deixa mais livres os movimentos e as composições. Mas ainda continuam lá todo o arrojo técnico, meticulosamente elaborado em longos estudos. Mesmo cenas burguesas, como A Leitura, confirmam uma certa preocupação com a ambientação brasileira. Essa identidade, meio caipira e meio burguesa, ao mesmo tempo, se identifica bastante com a identidade que a classe burguesa paulista procurava naquela época, tamanho era o sucesso e aceitação de seus trabalhos. ALMEIDA JÚNIOR - Repouso Óleo sobre tela - 85 x 115 Coleção particular, Rio de Janeiro ALMEIDA JÚNIOR - Moça Óleo sobre tela - 50 x 61 Museu de Arte de São Paulo “Creio que a questão da possibilidade de uma pintura nacional, foi mesmo resolvida em São Paulo, por Almeida Júnior, que se pode muito bem adotar como precursor, encaminhador e modelo. Os seus quadros, se bem que não tragam a marca duma personalidade genial, estupenda e fora de crítica, são ainda o que podemos apresentar de mais nosso, como exemplo de cultura aproveitada e arte ensaiada”. (Oswald de Andrade - 1915) ALMEIDA JÚNIOR - Moça - Óleo sobre tela - 50 x 61 - Museu de Arte de São Paulo ALMEIDA JÚNIOR - A família de Antônio Augusto Pinto Óleo sobre tela - 106 x 137 - 1891 Pinacoteca do Estado de São Paulo “Já nos últimos dias monárquicos, a inteligência plástica brasileira principia-se inquietante de sua funcionalidade nacional, de alguma forma anunciando os tempos modernos. A influência da técnica européia ainda predomina, e predominará até os nossos dias, mas os artistas de maior valor se voltam para a expressão da terra e do homem. O pernambucano Teles Júnior cria paisagens nordestinas de caráter vigoroso e fiel; em São Paulo, Almeida Júnior, em luta aberta com as luzes de nossos dias e a cor da terra que a sua paleta parisiense não aprendera, analisa com firmeza os costumes e o tipo do caipira. Mas já era a República, e ecoa o que estavam fazendo na música, com as mesmas hesitações e felicidade intermitente, Alexandre Levi e Alberto Nepomuceno.” (Mário de Andrade – 1944) ALMEIDA JÚNIOR - O descanso do modelo Óleo sobre tela - 98 x 128 - Coleção particular, São Paulo ALMEIDA JÚNIOR - Ateliê parisiense Óleo sobre tela - 53 x 46 - 1880 Coleção particular, São Paulo ALMEIDA JÚNIOR - O modelo Óleo sobre tela - 80 x 65 - 1897 Coleção particular, São Paulo “Não conheceu o novo século, talvez para sua tranqüilidade espiritual de artista probo e simples que a idade do ferro iria sem dúvida perturbar. Uma profecia anunciara para aquele dia (13 de novembro de 1899) o fim do mundo, e a velha servidora que lhe recordara ao vê-lo sair da chácara onde passara o dia. Sorridente, ele respondera: Pois se é o fim do mundo, prefiro morrer na cidade. Não se acabou o mundo, mas acabou-se naquele ano um mundo. De resto, para ele, a profecia realizava-se plenamente, com a vulgaridade de uma notícia de jornal.” (Sérgio Milliet – 1944) JOSÉ FERRAZ DE ALMEIDA JÚNIOR .Nasceu a 8 de maio de 1850, na cidade de Itu, São Paulo. . Faleceu a 13 de novembro de 1899, apunhalado por José de Almeida Sampaio, em Piracicaba, São Paulo. Morreu solteiro e no auge de sua carreira artística.