Nos anos 80, recordo-me do ritual das sextas-feiras. Ela chegava por volta das 11h com um grande cesto na cabeça, tocava à porta, o Lord disparava pelas escadas abaixo a ladrar como um doido e o pregão era sempre o mesmo: "Minha senhora, queijadas fresquinhas". O debate em casa era breve. "Compra lá", implorava eu à minha mãe. Por vezes, a mulher das queijadas apanhava o meu pai na rua e vendia-lhe as queijadas a ele em vez de vir cá a casa. Conseguia convencê-lo sem grandes dificuldades. Não sei o que foi feito desta mulher, mas ainda há poucos anos, o mesmo ritual de sexta-feira se cumpria. Sempre gostei muito mais destas queijadas do que das Queijadas de Tentúgal que me parecem excessivamente doces. As que eram vendidas à porta de casa dos meus pais eram massudas, coisa que me agradava. Um recheio espesso e uma crosta consistente. Como se tivessem saído das mãos de uma mulher com muita força. Na Queijadinha, em Pereira, que eu já tinha descoberto na internet há uns meses, as Queijadas de Pereira atingiram o grau de perfeição. Não são excessivamente rústicas como as queijadas que eram vendidas porta a porta por aquela mulher que chegava de comboio à Figueira da Foz, mas mantêm, ainda, uma certa simplicidade que nos remetem para comidas feitas em casa com amor. Mesmo que eu esteja a caminhar para o crudivorismo, estas Queijadas de Pereira vão sempre fazer parte das minhas memórias. Gustativas e não só :)