Na ocorrência de sinistro, normalmente, a primeira reação das pessoas é procurar resguardar a própria vida, abandonando o local de perigo e refugiando-se em local seguro. Em função disso, o provimento de saídas de emergência deve ser a primeira preocupação. As saídas de emergência devem propiciar um caminho contínuo, devidamente protegido, a ser percorrido pelos ocupantes da edificação em caso de incêndio ou outra emergência, que vai da área interna até a área externa segura ou para outro local em conexão com esta. Saída de emergência é o caminho contínuo, devidamente protegido, proporcionado por portas, corredores, halls, passagens externas, balcões (sacadas), vestíbulos (átrios), escadas, rampas ou outros dispositivos de saída, podendo ainda ser formada pela combinação destes. Será percorrido pelo usuário, em caso de um incêndio, de qualquer ponto da edificação até atingir a via pública ou espaço aberto, em comunicação com a rua. Com base nessa definição e tendo em vista as características de uma edificação verticalizada, podem ser identificados três componentes das saídas de emergência: acessos ou rotas de saídas horizontais, isto é, acessos às escadas, quando houver, e respectivas portas ou ao espaço livre exterior, nas edificações térreas; rotas de saída verticais: escadas, rampas ou elevadores de emergência; descarga. As saídas de emergência devem seguir as prescrições da NBR 9.077 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). As rotas de saída verticais mais comuns são as escadas, portanto será dado maior destaque ao estudo delas. Porém, existem ainda as rampas e os elevadores de emergência com suas peculiaridades e devida importância. As rampas são utilizadas principalmente em hospitais para permitir a passagem de macas e cadeiras de rodas. Os elevadores de emergência são adotados em prédios altos, acima de vinte pavimentos. As saídas de emergência visam garantir que as pessoas sujeitas a uma situação de incêndio sobrevivam com os menores danos possíveis. Tendo em vista essa característica, alcançar as saídas de emergência deve ser uma meta constante das pessoas envolvidas em um incêndio. As saídas de emergências constituem uma das medidas de proteção mais eficazes por atenderem duas finalidades básicas, que são: permitir a retirada dos ocupantes da edificação com segurança; promover o acesso seguro das equipes de bombeiros. As saídas de emergência devem prover uma rota livre de calor e fumaça para se chegar ao local sinistrado, com exceção das escadas não enclausuradas. Além disso, servem de caminho seguro para evacuação e resgate de pessoas, bem como transporte de materiais (mangueiras, esguichos, chaves e outras ferramentas). As saídas são projetadas pensando-se em duas filas de pessoas, no mínimo, passando ao mesmo tempo por elas. Portanto, as guarnições podem orientar, durante a operação, que as pessoas que estão descendo andem sempre pela direita. Dessa forma, é possível que os usuários desçam por um lado, enquanto as guarnições de socorro adentram pelo outro, sem maiores complicações. As larguras mínimas das saídas, em qualquer caso (corredores, escadas, rampas), devem ser as seguintes: 1,10 metros, correspondendo a duas unidades de passagem (ou duas filas de pessoas); 2,20 metros, para permitir a passagem de macas, camas e outros, comumente encontradas em hospitais e assemelhados. As guarnições podem orientar que as pessoas andem sempre pela direita da escada, de forma que saiam por um lado e os bombeiros adentrem pelo outro. As guarnições de bombeiros devem sempre priorizar a utilização das saídas de emergência como rota para efetuar suas ações de combate e salvamento nas edificações. Unidade de passagem é a largura mínima para a passagem de uma fila de pessoas, fixada em 0,55 metro. É importante distinguir escadas de emergência das demais escadas de uma edificação. Escada de emergência é a escada integrante de uma rota de saída, podendo ser constituída por: escada não enclausurada; escada enclausurada protegida; escada enclausurada à prova de fumaça; escada enclausurada à prova de fumaça pressurizada. Com base nesta definição de escada de emergência, fica evidenciado que, embora a maioria das pessoas possa acreditar no contrário, uma escada não precisa, necessariamente, ser enclausurada (fechada) para ser considerada de emergência. Levando em consideração esse fato, apesar da distinção apresentada, qualquer escada pode, eventualmente, funcionar como uma rota de fuga. Portanto, mesmo as escadas que, em princípio, não são destinadas a saídas de emergência são alvo de fiscalização e devem atender a certos parâmetros normativos. As escadas devem apresentar algumas características gerais de construção, tais como: 1. ser constituídas com material incombustível e oferecer, nos elementos estruturais, resistência ao fogo de, no mínimo, 2h; 2. ter os pisos dos degraus e patamares revestidos com materiais resistentes à propagação superficial de chama; 3. ter os pisos com condições antiderrapantes e quem permaneçam antiderrapantes com o uso; 4. os acessos devem permanecer livres de quaisquer obstáculos, tais como móveis, divisórias móveis, locais para exposição de mercadorias e outros, de forma permanente, mesmo quando o prédio estiver supostamente fora de uso. Dentro desses parâmetros, destacam-se que: toda saída de emergência deve ser protegida de ambos os lados por paredes ou guardas (guarda-corpos) contínuas, sempre que houver qualquer desnível de altura maior do que 19 centímetros, para evitar quedas. A altura das guardas deve ser, no mínimo, de 1,10 metro. Guarda-corpo ou guarda é uma barreira protetora vertical, delimitando as faces laterais abertas de escadas, rampas, patamares, terraços, galerias e assemelhados, servindo como proteção contra eventuais quedas de um nível para outro. Outro elemento de importância nas saídas de emergência é o corrimão. Ele é constituído por uma barra, cano ou peça similar, que possua uma superfície lisa, arredondada e contínua, devendo estar localizado junto às paredes ou às guardas de escadas (ou guarda-corpo — apoio do corrimão que fica à meia altura, servindo como proteção para a lateral da escada), rampas ou passagens. Serve para as pessoas nele se apoiarem ao subir, descer ou se deslocar. Figura 3 - Alturas de guarda-corpo e corrimão em escadas As saídas de emergência podem, conforme o caso, ser dotadas de portas corta-fogo ou resistentes ao fogo. De acordo com a definição contida na NBR no 11.742 da ABNT, a porta corta-fogo (PCF) usada para saída de emergência é uma porta do tipo de abrir com eixo vertical, que consegue impedir ou retardar a propagação do fogo, calor e gases, de um ambiente para o outro. As PCF devem ter resistência ao fogo, que é a propriedade de suportar o fogo e proteger ambientes contíguos durante sua ação, ou seja, capacidade de confinar o fogo (estanqueidade, limitação dos gases quentes e isolamento térmico) e de manter a estabilidade ou resistência mecânica, por determinado período. Essa propriedade é determinada mediante ensaio realizado conforme a NBR no 6.479. Dentro das normatizações relativas a escadas de emergência, cabe destacar que a NBR no 9.077 define que a escada enclausurada protegida deve possuir porta resistente ao fogo (PRF), por 30 minutos, referindo-se, portanto, à propriedade de isolamento térmico que esse tipo de porta deve possuir. Em virtude de vários problemas relacionados à saída de um grande volume de pessoas, comumente encontrado em locais de concentração de público, como cinemas, teatros, auditórios, etc., verificou-se a necessidade de instalação de dispositivo que possibilitasse a abertura fácil das portas: a barra anti-pânico. Esse dispositivo permite o destravamento da folha de uma porta, no momento em que é acionado, mediante a simples pressão exercida sobre a barra, no sentido de abertura. Seu emprego é feito por meio de uma barra horizontal fixada na face da folha. Figura 4 - Porta corta-fogo com barra antipânico Para se abrir a porta, basta empurrá-la para frente pela barra anti-pânico. Escada não enclausurada Escada não enclausurada (NE) é uma escada sem a proteção lateral de paredes corta-fogo e sem portas corta-fogo. Isso significa que, havendo fumaça no ambiente, conseqüentemente, haverá também nas escadas, o que exigirá dos bombeiros uma ação mais cautelosa nos procedimentos de retirada das vítimas. Escada enclausurada protegida A escada enclausurada protegida, ou mais comumente conhecida como escada protegida (EP), é definida como uma escada devidamente ventilada, situada em ambiente envolvido por paredes corta-fogo ( Parede corta-fogo: parede com capacidade para resistir ao fogo e à fumaça por um determinado período de tempo, mantendo suas funções e isolando o ambiente. ), e dotada de portas resistentes ao fogo. Essa escada caracteriza-se não só pela existência de porta na entrada da caixa de escada, mas também por ser ventilada. A ventilação é constituída por entrada de ar no térreo, janelas nos pavimentos (ou ventilação alternativa) e alçapão de alívio de fumaça no limite superior. Na Figura 5, as setas azuis no desenho indicam a rota dos ocupantes para abandonar a edificação. A escada protegida oferece uma relativa proteção contra os gases quentes provenientes de um incêndio, pois a ventilação nesse tipo de escada não impede que a fumaça adentre na caixa da estrutura. Isso ocorre porque a porta não é estanque à fumaça (trata-se de uma porta resistente ao fogo e não de uma porta corta-fogo) e, quando as pessoas abrem-na para adentrar a escada, arrastam consigo fumaça para seu interior, não existindo meio (antecâmara ou pressão positiva) que a impeça de entrar. Escada enclausurada à prova de fumaça Escada enclausurada à prova de fumaça (PF) é aquela cuja caixa é envolvida por paredes corta-fogo e dotada de porta corta-fogo, cujo acesso é feito por antecâmara igualmente enclausurada ou local aberto, de modo a evitar fogo e fumaça no interior da escada em caso de incêndio na edificação. A antecâmara da escada PF é ventilada por meio de dutos de ventilação natural. Os dutos constituem um sistema integrado para a entrada de ar puro e saída de fumaça e gases quentes do ambiente da antecâmara. Diferentemente da escada EP, quando uma pessoa abre a porta da escada PF, a fumaça que é arrastada consigo não entra diretamente na caixa de escada, sendo encaminhada para o duto de saída na antecâmara. O princípio de ventilação da escada PF é o efeito chaminé: um diferencial de pressão provocado pelo ar dentro da edificação, que está em uma temperatura diferente daquela do ar na parte externa. Pelas aberturas na parte superior (duto de saída) e inferior (duto de entrada), promove um fluxo de ar natural (através do edifício) para cima, quando o ar dentro do prédio for mais quente (que é precisamente o caso da fumaça de incêndio) e para baixo, quando for mais frio. Na Figura 6, as setas azuis indicam a rota dos ocupantes para abandonar a edificação. O elevador de emergência também é protegido pelas paredes resistentes ao fogo e tem acesso pela antecâmara. Os dutos servem para garantir o escoamento da fumaça e a entrada de ar puro. A Figura 7 apresenta um corte esquemático lateral dos dutos de entrada e saída de ar da escada PF. As setas azuis indicam a rota de entrada do ar, enquanto as setas vermelhas indicam a rota de saída da fumaça. Vista da parede da antecâmara com os dutos de entrada e saída de ar Escada enclausurada à prova de fumaça pressurizada Escada à prova de fumaça pressurizada (PFP) é a escada cuja condição de estanqueidade à fumaça é obtida por método de pressurização mecânica. O método de pressurização consiste em fornecer um suprimento de ar para um ambiente (escada, antecâmara, etc.), mantendo-o a uma pressão mais alta do que a verificada nos espaços adjacentes, preservando um fluxo de ar para o exterior da edificação meio das vias de escape de ar. O objetivo é criar um gradiente de pressão (e, consequentemente, um fluxo de ar), com pressão mais alta nas saídas de emergência (escadas, antecâmaras, saguões ou corredores) e uma pressão progressivamente decrescente nas áreas fora da rota de fuga, a fim de impedir que a fumaça e os gases tóxicos do incêndio adentrem e dificultem o abandono da edificação. Constituem alguns componentes básicos das escadas PFP: sistema de detecção e acionamento (deve haver um sistema de detecção de incêndio que acione as máquinas de pressurização); suprimento mecânico de ar externo (captação de ar puro para insuflar na caixa de escada); trajetória (ou via) de escape de ar (aberturas ou frestas por onde o ar da escada escapa para o exterior da edificação); fonte de energia garantida (pode ser um motogerador que garanta o funcionamento do sistema mesmo na ausência de energia da concessionária). Torna-se necessário determinar não apenas onde será introduzido o suprimento de ar fresco, mas também por onde sairá e quais rotas serão utilizadas no processo. Além disso, é preciso ter em mente que o sistema depende de uma fonte de energia autônoma que lhe confira confiabilidade, bem como um sistema de detecção e alarme de incêndio que faça o acionamento do sistema de pressurização. O sistema de pressurização pode ser projetado para operar somente em caso de emergência ou, alternativamente, manter um nível baixo de pressurização para funcionamento contínuo, com previsão para um nível maior de pressurização apenas em situação de emergência. Essa última possibilidade é chamada de sistema de pressurização em dois estágios, enquanto que a primeira é conhecida como sistema de pressurização em um estágio ou estágio único. De maneira geral, o sistema em dois estágios é considerado preferível, pois alguma medida de proteção estará permanentemente em operação e, portanto, qualquer propagação de fumaça nas etapas iniciais de um incêndio será prevenida, além de promover a renovação do ar no interior da escada. As grelhas de insuflação são dispostas a cada dois pavimentos. Dimensionamento das saídas de emergência As saídas de emergência são dimensionadas, basicamente, em função da população do edifício conforme a NBR n 9.077, onde o tipo, a quantidade e a largura das escadas de emergência dos prédios baseados nesse critério. O tipo da escada – NE, EP, PF ou PFP – é definido de acordo com a ocupação (residencial, comercial, industrial, etc.) e da altura da edificação. O número mínimo de saídas exigido para os diversos tipos de ocupação é determinado em função da altura, dimensões da estrutura e características construtivas. A largura das saídas deve ser dimensionada em relação ao número de pessoas que por elas devam transitar, para cada tipo de ocupação. A seguir são dados alguns exemplos práticos existentes no Distrito Federal: edifício residencial de três ou quatro pavimentos de até 12 metros de altura11, típico no Cruzeiro, Guará, Sudoeste, Taguatinga (QNL): 1 escada NE; edifício residencial de seis pavimentos, comum nas Asas Norte e Sul 12: 1 escada EP; edifício residencial de doze, quinze ou mais pavimentos, com altura superior a 30 metros, existente em Águas Claras e alguns em Taguatinga Centro: 1 escada PF ou PFP; edifício comercial de escritórios de dez ou mais pavimentos, com altura superior a 30 metros, típico dos setores centrais de Brasília (Setor Bancário, Hoteleiro, de Autarquias, etc.): pelo menos 1 escada PF ou PFP.