Fernando Pessoa - o poeta de múltiplos eus, poesia de Fernando Pessoa, seus heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis
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I bear the wounds of all the battles I avoided.
Fernando Pessoa aos três anos de idade Quando era criança Vivi, sem saber, Só para hoje ter Aquela lembrança. E hoje que sinto Aquilo que fui. Minha vida flui, Feita do que minto. Mas nesta prisão, Livro único, leio O sorriso alheio De quem fui então. Fernando Pessoa 2-10-1933 Análise do poema "Quando era criança" O poema "Quando era criança" é um poema ortónimo tardio de Fernando Pessoa, datado de 2 de Outubro de 1933. Sendo um poema tardio e da autoria de Pessoa em seu próprio nome, caracteriza-se por uma das temáticas mais queridas a Pessoa quando escrevia em seu próprio nome: a lembrança da infância, enquanto período dourado da sua vida. Por isso, este poema fala da própria infância de Pessoa e não só da infância enquanto período de felicidade para todos os homens. Passemos à análise do poema propriamente dito: Quando era criança Vivi, sem saber, Só para hoje ter Aquela lembrança. Aqui Pessoa aborda a temática da infância enquanto período da inconsciência completa: "Vivi, sem saber". As crianças vivem a felicidade, porque em grande medida a desconhecem estar a viver. Esta oposição pensar/viver acompanhará sempre Pessoa nas suas análises. Ele sabe que será impossível regressar àquela condição infantil, porque hoje adulto ele sabe qual é a sua vida e não a pode ignorar: ele agora pensa e não se limita a viver. Por isso ele diz "Só para hoje ter / Aquela lembrança". De facto tudo o que resta é a lembrança, porque essa inconsciência da vida não vai regressar novamente. É hoje que sinto Aquilo que fui Minha vida flui Feita do que minto. "Hoje" é que Pessoa sente o que foi. Isto reforça o que já dissemos: hoje a vida de Pessoa é feita daquele "pensar" que não existia quando ele era apenas criança. Hoje ele "sente", quando era criança apenas "vivia". A sua vida actual é uma mentira - pela sua própria avaliação. É uma mentira, provavelmente porque ele sente não conseguir descobrir a verdade do seu destino: é uma mentira existencial, uma vida que Pessoa sente não lhe pertencer por direito. Mas nesta prisão, Livro único, leio O sorriso alheio De quem fui então. Pessoa está preso então nessa vida, nessa mentira que lhe impuseram. O que lhe resta é o "livro" que lê, o livro das memórias de uma infância perdida. E ao ler, vem-lhe um "sorriso alheio", um sorriso do passado, que já não é dela, mas que ele pode continuar a recordar, num apaziguamento frágil, mas que ao menos o poderá consolar na sua existência perdida. A memória da infância perdida conforta-o, mas igualmente o sufoca. Ps: podem encontrar as características de Fernando Pessoa Ortónimo neste link: prof2000.pt (Fonte desta análise: Um Fernando Pessoa)
A cantora publicou uma citação do poeta português no seu Instagram.